Todos sabemos que o Algarve é a província mais meridional de Portugal, e foi o último território tomado aos árabes na reconquista cristã.
Mas por que os Reis de Portugal se intitulavam "Reis de Portugal e dos Algarves d´aquém e d´além-mar", sempre no plural?
Garb é palavra árabe que significa Ocidente, e acrescida do artigo “al” (Algarve), o Ocidente. Para quem vinha da Arábia pelo Mediterrâneo, a região do Algarve português era a mais no Ocidente da Europa. O norte da África (atual Marrocos) era chamado Magreb, que também quer dizer Ocidente, e os portugueses denominavam Algarve de além mar ou Algarve de além mar em África. Em resumo, Algarve de aquém mar (do lado de cá do mar), era a região da atual província portuguesa do Algarve, e Algarve de além mar (do outro lado do mar) era a região do atual Marrocos que lhe ficava fronteira, do outro lado do Estreito de Gibraltar.
E como isso foi parar no título dos Reis de Portugal?
O Algarve português foi reconquistado pela primeira vez em 1189 pelo Rei D. Sancho I (1185-1211), que apressou-se a tomar o título de Rei de Portugal e do Algarve.
Entretanto,em 1191, os Árabes sob o comando de Iacube Almançor, retornavam Silves e as outras praças do Algarve, e avançaram até a linha do Tejo, tomando Alcácer do Sal, Palmela e Almada.
A tomada definitiva do Algarve só ocorreu em 1249 com D. Afonso III (1248-1279). Mas Castela se arrogava direito à região, e só com o Tratado de Badajoz (1267) a questão foi decidida a favor de Portugal, e D. Afonso III pode assumir o título definitivo de Rei de Portugal e do Algarve.
Em 1415, Portugal inicia a expansão no Marrocos, conquistando Ceuta.
D. Afonso V, cognominado o Africano conquista Alcácer Ceguer (1458) e começa a usar o título de Rei de Portugal e Senhor de Ceuta e de Alcácer em África.
E, depois de tomar Arzila e Tânger, passa a usar o de Rei de Portugal e dos Algarves d`quem e d`alem mar em África.
D. Manuel, o Venturoso, depois de 1499 amplia ainda mais os títulos: Rei de Portugal e dos Algarves daquém e dalém mar em África, Senhor de Guiné e da conquista da navegação e comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e da Índia.
E o último acréscimo foi o do Reino do Brasil, pelo Príncipe Regente D. João.
O decreto de 16/12/1815, que eleva o Brasil a Reino, começa:
“D. João por graça de Deus, Príncipe Regente de Portugal, e dos Algarves d’aquém e d’além mar, em África de Guiné e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e da Índia, etc.”.[ sic ]
E continua:
“1ª Que desde a publicação desta Carta de Lei, o Estado do Brasil será elevado à dignidade, preeminência, e denominação de “Reino do Brasil”;
“2ª Que os meus Reinos de Portugal, Algarves e Brasil formem, d’ora em diante, um só e único Reino, debaixo do título de “Reino Unido de Portugal, do Brasil e Algarves”.
E ordena: “Que nos títulos inerentes à Coroa de Portugal, e de que até agora Hei feito uso, se substitua em todos os Diplomas, Cartas de Lei, Alvarás, Provisões, e Actos Públicos com o novo título de Príncipe Regente do Reino Unido de Portugal, do Brasil e dos Algarves d’Aquém e d’Além Mar em África e da Guiné, e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia, etc.”