Os 150 anos de fundação do Instituto Histórico, Arqueológico e Geográfico de Goiana, a mais antiga instituição municipal desta natureza no Brasil, constituem uma efeméride. Efeméride local sem dúvida, mas igualmente pernambucana e brasileira, pois se insere num vigoroso movimento cultural que se iniciou em 1838, com a fundação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e prosseguiu em 1862, com a instalação do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano.
Criar-se em Goiana o primeiro Instituto municipal do Brasil não foi mero acaso. A cidade já tinha, em 1870, uma história consolidada, que se expressava em forte consciência identitária. Seus habitantes lutaram para torná-la vila em 1710 e cem anos depois conseguiram do príncipe regente recém chegado ao Brasil que nela se estabelecesse um Juiz de Fora, importante peça da política de centralização que então se iniciava. Este ato, datado de 1 de agosto de 1808, foi significativo, por se tratar do primeiro juizado deste tipo criado fora da capitania do Rio de Janeiro após a chegada da Corte. Da justificativa no alvará de criação constava ser a vila “além de antiga, assaz populosa, agricultora e comerciante”. Próspera portanto, o que foi atestado pelo inglês Koster dois anos depois, quando a visitou e onde encontrou Manuel de Arruda Câmara.
Mais tarde, nos acontecimentos de 1817, da independência e da Confederação do Equador, teria papel decisivo nos acontecimentos que marcaram – e definiram – as histórias de Pernambuco, da Paraíba e do Brasil.
Em 1938, nos primeiros momentos em que foram criados os mecanismos institucionais e legais de proteção ao patrimônio cultural brasileiro, Goiana teve edificações tombadas e em 2010 seu conjunto urbanístico e paisagístico foi inscrito nos Livros do Tombo Histórico e Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico do IPHAN, decisão para a qual tive a honra de colaborar como membro de seu Conselho Consultivo.
O Instituto Histórico, Arqueológico e Geográfico de Goiana, como instituição municipal, tem muito a contribuir para a cultura pernambucana e brasileira. Os institutos municipais, atualmente se multiplicando pelo Brasil, possuem importantes papéis a desempenhar em diferentes campos.
No da documentação, reunindo fontes locais que não cabem ou não interessam aos arquivos municipais – quando estes existem. No da memória social, contribuindo para a realização de atividades que afirmem e vivenciem a identidade regional. Consequentemente, no da preservação patrimonial, assessorando, sugerindo e reivindicando medidas de proteção aos bens materiais tombados e aos bens imateriais registrados. E finalmente, mas não menos importante, na produção do conhecimento pela realização e divulgação de estudos e pesquisas sobre a vida local em todas as suas manifestações.
Nesta saudação que tenho a honra de dirigir ao Instituto Histórico, Arqueológico e Geográfico de Goiana e a seus ilustres membros, gostaria por fim de sublinhar que a feliz consecução de todos esses papéis se tornará simultaneamente mais facilitada e mais relevante se o Instituto estreitar sua colaboração com as demais instituições congêneres, a começar pelo Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano e pelo Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. A rede nacional de Institutos Históricos, que começamos a esboçar, permitirá que consolidemos cada uma de nossas entidades, contribuindo decisivamente para o desenvolvimento da ciência e da cultura em nosso país.
Àqueles que fundaram e desenvolveram o Instituto de Goiana, nossa gratidão e nosso reconhecimento. Aos que agora por ele lutam, nosso estímulo e nossa admiração.
*Saudação feita na sessão solene de 28 de agosto de 2020, comemorativa do sesquicentenário do Instituto Histórico e Geográfico de Goiana.