ResumoA história das “invasões holandesas” no Brasil, ocorrida entre 1630 e 1654, é um capítulo da história colonial reiteradamente contado nos livros didáticos de História. No entanto, questionar é necessário para perceber a constituição de um modelo historiográfico paradigmático acerca da história da presença holandesa nas capitanias do Norte. A interpretação do episódio mais utilizada pelos livros didáticos reproduz aquela que foi proposta por Varnhagen no século XIX. A pesquisa partiu da análise crítica da abordagem da temática nas principais obras do historiador, a saber: História Geral do Brasil (1854-1857) e em História das Lutas com os Holandeses no Brasil (1871), bem como da identificação das fontes primordiais que embasaram seu trabalho, ou seja, as crônicas da guerra. Tais procedimentos demonstraram que, como expressão do nacionalismo em construção, em sua época, Varnhagen contou a história pelo lado português, destacando as fontes lusitanas e defendendo a resistência e a insurreição pernambucana. O historiador chegou a usar o termo “inimigos” em muitas passagens em referência aos holandeses que lutavam pela posse e pela permanência no território. Contudo, o período nassoviano traduziu-se em uma inflexão da versão construída pelo historiador, uma vez que sua narrativa teve de reproduzir a prosperidade econômica e a estabilidade política admitidas nas fontes. Assim, o artigo contextualiza a abordagem de “invasão holandesa”, dentro do quadro da historiografia nacional oitocentista, preocupada com a escrita da História da Pátria. Palavras-chave: Francisco Adolfo de Varnhagen; Invasão holandesa; Historiografia brasileira; Resistência portuguesa; Brasil holandês. |
AbstractThe history of the “Dutch invasions” in Brazil between 1630 and 1654 is a chapter of colonial history commonly told in history textbooks. However, questioning is necessary to understand the constitution of a paradigmatic historiographic model about the history of the Dutch presence in the northern captaincies. The most widely used interpretation of the episode in textbooks goes back to Varnhagen in the nineteenth century. Our research was based on the critical analysis of the thematic approach in the main works of the historian, namely: General History of Brazil (1854-1857) and History of the Struggles with the Dutch in Brazil (1871). We further identified the primary sources that underpin his work, namely the chronicles of war. Our analysis showed that, as an expression of the nationalism under construction at that time, Varnhagen told history from the Portuguese perspective, highlighting the Lusitanian sources and defending the resistance and insurrection of Pernambuco. The historian even used the term “enemies” in many passages to refer to the Dutch who fought for the possession of and permanence in the territory. However, the Nassovian period translated into an inflection of the version constructed by the historian, since his narrative had to reproduce the economic prosperity and the political stability acknowledged in the sources. We conclude by contextualizing the approach of “Dutch invasion” within the framework of the nineteenth-century national historiography, concerned with the writing of the history of our homeland. Key Words: Francisco Adolfo de Varnhagen; Dutch invasion; Brazilian historiography; Portuguese resistance; Dutch Brazi. |